domingo, 23 de março de 2008

No teu poema ( Simone de Oliveira )

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida.
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta, uma varanda para o Mundo.

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano.

Existe a noite
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
O cais da nova nau das descobertas.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco, ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera... do futuro.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Modus Vivendi


Quando se fala em Praxe, levantam-se sempre ondas envoltas em fanatismos, quer do lado dos que a compreendem, quer do lado dos que a não suportam.

Mas o que é isso da Praxe? É um Modus Vivendi característico dos estudantes académicos suportado por um conjunto de tradições lusitanas, podendo então ser entendida como cultura estudantil. Mas deixemos isto de parte e centremo-nos na parte do Modus Vivendi. Sendo um modo de vida, uma forma de estar, é algo que nos remete para os domínios pessoais de cada um.

É, única e exclusivamente, da responsabilidade de cada um usufruir deste Modus Vivendi da forma que mais bem entender. Cada um deverá então viver e sentir tudo isto da forma que lhe for mais conveniente, isto é, da forma que se identificar mais com as suas raízes, sejam elas ao nível da personalidade intrínseca ou da educação. Claro que, como em tudo na vida, é um tanto ou quanto lógico que quantas mais sementes forem plantadas, mais frutos serão colhidos.

É da competência da Praxe e dos que a vivem com sentido de responsabilidade manter sempre o respeito da mesma. Respeitá-la-emos sempre que tentarmos entender as diferenças de cada um, potenciando as suas virtudes. Trajamos como que simbolizando a igualdade entre todos os estudantes, e será um erro enorme trespassarmos os limites do que é razoável. Nunca os estudantes deverão fazer da praxe ditadura. Deverão antes usá-la como veículo de transmissão de tradições e bons costumes, fomentando sempre o respeito pelos mais velhos, a vontade de evoluir, a integração na cidade e na comunidade estudantil.

Centenas de estudantes vindos dos lugares mais recônditos do meu país chegaram à cidade do Porto para estudar, e foi precisamente pela Praxe que fizeram amigos, que perderam a timidez, que potenciaram virtudes suas, algumas das quais até os próprios desconheciam. E isso para mim é simplesmente fascinante. Todavia, muitos outros, ainda que minoritariamente, chegaram dos mesmos locais e foram perseguidos, humilhados, intimidados e excluídos. E este caso revolta-me tanto quanto me fascina o anterior. Será então da nossa competência averiguar as razões desta triste realidade, que só serve para duas coisas: denegrir a imagem da Praxe na sociedade e descarregar as frustrações de muita gente.

Provavelmente será interessante entendermos a razão pela qual tudo isto acaba por mover multidões, despertando um gigante carrossel de emoções e sentimentos em cada um. A razão parece-me simples. A praxe é tão maior que os homens que a fazem que é capaz de oferecer a cada pessoa um motivo para estarem milhares delas numa Serenata. É algo de tal forma intenso que é bem capaz de, numa dada altura, deixar alguém revoltado e desiludido com algo e, dias depois, deixar essa mesma pessoa a radiar felicidade e entusiasmo.

Tantas palavras para dizer que a Praxe nunca se deverá impor sobre as nossas personalidades. Serão antes as nossas personalidades a encaixarem nela da melhor forma, de maneira a que a possamos viver e sentir ao nosso jeito. Porque quantos mais o fizerem, mais forte e maior ela será. Mas nunca ninguém disse que eram só rosas e águas limpas, nunca ninguém rotulou isto como sendo fácil.

Em suma, o meu sonho maior, ainda que desmedidamente utópico, é incutir aos outros as emoções e os sentimentos que, mais do que uma vez, fizeram parte de mim.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Uma imagem, uma frase, uma ideia.


Fuck you, I wont do what you tell me!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Tudo tem o seu avesso


Há coisas na vida que não são para serem entendidas. A que vou falar é uma delas. Tenho mesmo que o dizer, e não sei como o hei-de fazer. A culpa é toda minha. Se há coisas que não se entendem, não sou eu nem ninguém que as vai ter de fazer entender, mesmo que a história prove exactamente o contrário. Ainda assim, serei muito claro. Então, não será por falta de clareza que não vamos entender.

Eu próprio percebo muito pouco do que tenho para dizer. Bem, deixando-me de rodeios, o que quero é fazer o elogio do amor puro, a verdadeira homenagem a esse sentimento destruído pelo mundo e gentes contemporâneas. Dá a ideia que já ninguém se apaixona realmente. Parece que já ninguém aceita amar alguém sem uma razão aparente. Já ninguém se assume para viver o que é impossível de ser vivido. Nos dias de hoje, as pessoas apaixonam-se por uma questão de jeito, não mais do que isso. Dão-se bem, não se chateiam muito.

Por hoje, as pessoas fazem contratos antes do casamento, fazem planos sobre e para tudo, e à mais mísera adversidade entram logo em diálogo, aceso na maioria das vezes e “entre pessoas adultas”. O amor é cada vez mais algo que pode ser combinado por outros factores. Os amantes começaram a proliferar, como se de comércio e sociedades se tratasse. O amor é hoje não mais que uma mera espécie de sentimento influenciada por questões psicológicas, biológicas e sociológicas. Vai do indivíduo escolher o seu amor, porque hoje o amor não acontece por acaso, e talvez por isso não seja amor. Agora escolhe-se de quem se gosta. A beleza é também ela cada vez mais fundamental e essencial, e que me desculpem todos os feios. Sob o ponto de vista sociológico, é cada vez mais importante para o ser humano ter um amor que pareça bem. É cada vez mais uma questão de vaidade que o nosso amor seja este, em detrimento daquele. Ou por Ter uma cor diferente, por ter um cabelo mais engraçado, ou por ter um formato mais esbelto. Tudo conta por hoje para “amar”. Basicamente, podia dizer que as pessoas quase se apaixonam. Não, quase ninguém se apaixona de verdade. Amor verdadeiro é entrega pura e leal, única e autêntica. E nada mais.

Nunca se viu namorados tão covardes como os de hoje. As pessoas são incapazes de correr riscos de felicidade, de ter gestos nobres sem esperanças de recompensa, de esperar e sofrer. Já ninguém aceita a paixão com tudo aquilo que se lhe prende. A pureza, a tristeza, a saudade sem fim, o medo, a instabilidade, e todas as outras coisas. Nada disso é aceite pelas pessoas nos dias de hoje. Nada que tenha a ver com paixão é aceite. Já ninguém aceita viver com a doença, que é como um vírus que nos consome o sangue e o coração, a alma e o ar que respiramos. O amor verdadeiro não é nenhum auxílio para se ser feliz. O amor não é para ser a água que tapa o fogo dos incêndios das nossas vidas. Não é, definitivamente.

Já não vejo romances, loucuras puras, abraços sentidos e todas essas coisas. O amor morreu, já não vive, já não esboça sequer um respiro. Amor que é amor tem de ser perigo por dentro, e não por fora. O amor não é para nos fazer felizes. Não é, e ponto final. O amor tanto faz, é uma mera questão de sorte ou azar. O amor não existe para nos levar para cima das nuvens. O amor existe para nos dar essa vontade, e nada mais do que isso. O resto cabe a quem ama e a quem é amado, a quem quer viver o amor, e a quem não quer. E ainda, na sua maioria, a quem quer viver plágios mal feitos de amor. A quem, basicamente, quer viver a “quase” paixão.

O amor verdadeiro não é sequer um destino. O amor é uma condição, que não se percebe nem nunca se perceberá. O amor é a nossa alma a sonhar. É a busca do que não se compreende, do que não se tem, do que não se apanha. O amor é algo mais bonito que a própria vida que nós vivemos. Antes morrer por amor, que morrer na própria vida.

No amor verdadeiro, quando estamos longe de quem amamos, também não nos sentimos sós. Nessas alturas, acompanha-nos o amor que temos, o sonho de o termos para a eternidade. Quem ama de verdade, nunca está sozinho, ainda que os nossos olhos não vejam isso.

Se não percebemos, é sinal puro, é amor. A vida dura enquanto vivemos, o amor não. O amor não é eterno, é antes um sonho de sempre e para sempre, deixa de o ser eterno quando não é mais do que um sonho, mas mesmo assim continua a ser amor. Só um amor pode valer uma vida. Mil e um espertos concebem a sua vida negando o que disse, vivendo a vida e desfrutando dela em golpes felinos de prazer, mas nunca mais do que isso, nunca amando sem segundas intenções, sejam elas de companhia, de prazer ou de necessidade. E se assim é, não é amor.

E o curioso é que para ser feliz já não se pode pensar assim. E ao fim ao cabo, todos temos os nossos amores, e dependemos todos do mesmo para sermos felizes. Um estado de equilíbrio, cada vez mais.

Nuno.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

E no beijo vou guardando os versos mais lindos que te escrevo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O que somos.


Pois é caros amigos, o sonho comanda a vida. Se recuar dois ou três anos, quando ainda não estava na faculdade, o que era eu senão um rapaz que queria lá estar? Na altura eu não era um aluno do Secundário, era um aluno que queria estar na Faculdade. ‘Ah, mas tu estudavas no Secundário e não na Faculdade. Logo, eras aluno do Secundário’. Muito bem, mas então para que estudava eu? Para estar no Secundário? Que estupidez. Não, estudava para estar na Faculdade. Hoje o que sou? Sou alguém que quer ser Farmacêutico. E é para isso que estudo, ou não? Pois se assim não fosse, não precisava de estudar. Este exemplo tem tanto de estúpido como de real, interessante e verdadeiro. Somos sempre o que ambicionamos, o que sonhamos. Tudo aquilo que já conseguimos não é senão um facto, que não serve de muito mais que um outro facto qualquer.
Vejamos… quando entrei na Faculdade, esbocei felicidade e contentamento. Então, se hoje ainda estou na Faculdade terei de esboçar felicidade e contentamento? Claro que não parvos! Hoje eu já não sou alguém que quer lá estar, porque já estou. Sou alguém que quer mais, que quer aquilo que não tem, que não é. E é a isso que me proponho todos os dias que saio da cama com mais ou menos convicção. E quem diz Faculdade, diz um emprego, diz uma casa, diz um carro, diz um amor, diz um amigo, diz uma vida. Quem diz Faculdade, diz tudo. Bem, esta é para ti que ainda estás a pensar que eu sou maluco e anormal está bem? Se ganhares trezentos contos hoje, amanhã não vais querer ganhar quatrocentos? Alguma vez te vais dar por contente? Eu acho que não. O ser humano quer sempre mais, mais e mais. Quer sempre aquilo que não tem. E é para isso que vive, é para isso que corre. Quando aprenderes a nadar, vais querer sempre aprender a nadar mais. E quando nadares mais, já vais querer voar. E quando voares, vais querer voar mais alto. E quando já souberes voar mais alto, vais querer uma outra coisa soberba. É a máxima do ‘Se fores, vai mais longe’ ou ‘Se sonhares, sonha mais alto’.
Eu não sou senão a força e a vontade de atingir os meus sonhos. E tu também deverás ser qualquer coisa como isso. Amigos, a vida vai mostrar-vos que assim é, ou então eu sou mesmo maluco e não percebo nada disto.
Eu, e a minha tendência para compreender o que ninguém se preocupa em compreender.


Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego.




domingo, 6 de janeiro de 2008

Apresentação

Aqui quem manda são as palavras que me escorregam das mãos, como quem acredita que pode mudar alguma coisa, ou pelo menos marcar a diferença através de um simples ponto de vista, banal como todos os outros pontos de vista, ou de um poema, livre e abstracto como todos os outros poemas. Ou então muito mais significado, muito mais valor. Coisas soltas e muitas coisas mais, mas sempre à volta do mesmo. De coisas soltas, claro! Será o espaço para eu lançar os meus impulsos. Até breve, até muito breve.

The show must go on!