sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Modus Vivendi


Quando se fala em Praxe, levantam-se sempre ondas envoltas em fanatismos, quer do lado dos que a compreendem, quer do lado dos que a não suportam.

Mas o que é isso da Praxe? É um Modus Vivendi característico dos estudantes académicos suportado por um conjunto de tradições lusitanas, podendo então ser entendida como cultura estudantil. Mas deixemos isto de parte e centremo-nos na parte do Modus Vivendi. Sendo um modo de vida, uma forma de estar, é algo que nos remete para os domínios pessoais de cada um.

É, única e exclusivamente, da responsabilidade de cada um usufruir deste Modus Vivendi da forma que mais bem entender. Cada um deverá então viver e sentir tudo isto da forma que lhe for mais conveniente, isto é, da forma que se identificar mais com as suas raízes, sejam elas ao nível da personalidade intrínseca ou da educação. Claro que, como em tudo na vida, é um tanto ou quanto lógico que quantas mais sementes forem plantadas, mais frutos serão colhidos.

É da competência da Praxe e dos que a vivem com sentido de responsabilidade manter sempre o respeito da mesma. Respeitá-la-emos sempre que tentarmos entender as diferenças de cada um, potenciando as suas virtudes. Trajamos como que simbolizando a igualdade entre todos os estudantes, e será um erro enorme trespassarmos os limites do que é razoável. Nunca os estudantes deverão fazer da praxe ditadura. Deverão antes usá-la como veículo de transmissão de tradições e bons costumes, fomentando sempre o respeito pelos mais velhos, a vontade de evoluir, a integração na cidade e na comunidade estudantil.

Centenas de estudantes vindos dos lugares mais recônditos do meu país chegaram à cidade do Porto para estudar, e foi precisamente pela Praxe que fizeram amigos, que perderam a timidez, que potenciaram virtudes suas, algumas das quais até os próprios desconheciam. E isso para mim é simplesmente fascinante. Todavia, muitos outros, ainda que minoritariamente, chegaram dos mesmos locais e foram perseguidos, humilhados, intimidados e excluídos. E este caso revolta-me tanto quanto me fascina o anterior. Será então da nossa competência averiguar as razões desta triste realidade, que só serve para duas coisas: denegrir a imagem da Praxe na sociedade e descarregar as frustrações de muita gente.

Provavelmente será interessante entendermos a razão pela qual tudo isto acaba por mover multidões, despertando um gigante carrossel de emoções e sentimentos em cada um. A razão parece-me simples. A praxe é tão maior que os homens que a fazem que é capaz de oferecer a cada pessoa um motivo para estarem milhares delas numa Serenata. É algo de tal forma intenso que é bem capaz de, numa dada altura, deixar alguém revoltado e desiludido com algo e, dias depois, deixar essa mesma pessoa a radiar felicidade e entusiasmo.

Tantas palavras para dizer que a Praxe nunca se deverá impor sobre as nossas personalidades. Serão antes as nossas personalidades a encaixarem nela da melhor forma, de maneira a que a possamos viver e sentir ao nosso jeito. Porque quantos mais o fizerem, mais forte e maior ela será. Mas nunca ninguém disse que eram só rosas e águas limpas, nunca ninguém rotulou isto como sendo fácil.

Em suma, o meu sonho maior, ainda que desmedidamente utópico, é incutir aos outros as emoções e os sentimentos que, mais do que uma vez, fizeram parte de mim.